Eu sou hetero, mas comia-a...

terça-feira, 11 de agosto de 2009
... a ela e à amiga.

Será moda? Será natural curiosidade? Será bom? Será mau? Será um avião? (lol ok, esta parte foi parva). Sempre preferi pensar que são simplesmente pessoas a explorar a sua sexualidade, com abertura suficiente para o fazer com pessoas de ambos os sexos. Pensava também que isto era bom, óptimo até, para pessoas de todas as sexualidades, na medida em que retira um pouco a pressão dos rótulos sobre as pessoas e as suas escolhas de parceiros.

Mas, minhas caras, atentem bem ao título - não deixa de estar bem patente o "eu sou hetero", de modo que o rótulo continua lá. Parece que há a necessidade de um refúgio na protectora muralha da heterossexualidade, ao admitir algo que possa ser desviante. É mais ou menos o mesmo de eu entrar num bar cheio de benfiquistas ferrenhos e dizer "o Vítor Baía é o meu herói, mas atenção!, eu sou benfiquista fanática!!!" Fugi da toca ao admitir algo diferente, pouco usual tendo em conta a minha orientação (clubística, neste caso) mas logo tive de afirmar a minha "pureza" ao clamar ser benfiquista. Uff, já mostrei estar acima de qualquer crítica em relação àquilo que sou. Que bom!, a minha posição na sociedade está protegida.

E por isto, ou talvez por trauma da minha própria experiência, hoje torço um bocado o nariz a este género de conduta. Estou a referir-me às mil e uma "eu sou hetero, mas comia-a" e "eu sou bi, mas só ando com homens", que povoam os nossos cafés, ruas, faculdades, empregos. Há uma distinção bem marcada entre o que, para essas mulheres, é possível alcançar com um homem e com outra mulher. Independentemente do prazer que podem ter numa relação com outra mulher, são demasiado cobardes para abdicar do seu pedestal de "hetero", protegido pela sociedade; da sua posição de "filhas/irmãs/sobrinhas exemplares", que seria deitada por terra; e do sonho da família perfeita, tradicional e feliz que alimentaram desde bebés. Ao dizer-se capazes de "ter qualquer coisa" com uma mulher, mas delimitando esse "qualquer coisa" a algo pouco sério, momentâneo, sem perspectivas de futuro ou escondido a sete chaves, estão a desvalorizar-nos (a nós, mulheres; a nós, lésbicas) infinitas vezes mais do que se dissessem "epa, olha, mulheres não me atraem". Estão a usufruir da magia especial que é ter algo com uma mulher, porque sim, é mágico e especial, (heteros e homens, desculpem esta parte!) sem dar nada em troca, sem pôr a cabeça na guilhotina como nós temos feito para defender aquilo que somos e aquilo que sentimos. Nas entrelinhas estão a escrever "isso não pode ser a sério. Não para mim, que estou acima dos desvios e só mereço o melhor. O melhor não podem ser vocês."

Para terminar, há um verso de uma música da Jessica Harp que, apesar de originalmente não ter nada a ver com a homossexualidade, me parece apropriado:

"(S)he's your straight face, I'm your make you laugh and cry to dance and to lie"

1 Portas LEScancaradas:

menina do rio disse...

sim, compreendo perfeitamente o que dizes...
até porque o sinto na pele actualmente.
envolvi-me com alguém assim, que logo depois do que aconteceu se apressou a dizer-me que foi só uma experiência e que não é a onde dela...
deves estar esquecida que eu também lá estava e se não é a "onda dela", anda lá muito, muito próximo...
de qualquer forma, eu já devia estar à espera que fosse assim... tinha todos os indícios para o saber, mas avançar foi mais forte que eu, agora aguento...