Ironias

segunda-feira, 22 de junho de 2009
Diz a mulher que se orgulha de, nos anos 60, ter fugido de casa dos pais para ser Hippie e fumar umas brocas: "Homem com homem? Mas isso não é normal!" (como quem nunca fugiu à norma).
Diz o homem que vai no seu 3º casamento, não liga nenhuma aos filhos e trai a mulher com a prima desta: "Casamento homossexual? É totalmente contra os valores da instituição familiar! E as crianças criadas por homossexuais vão crescer totalmente desequilibradas!" (nem é preciso comentar).
O pseudo-macho: "Sim, a minha fantasia é ter duas mulheres na cama. Casamento homossexual? Elas que se casem, que me dá tesão, eles... foda-se!!!! Paneleiros da merda!"
...
Quantas outras barbaridades, verdadeiramente anti-natura, não vemos bem patentes em qualquer discurso homofóbico? Creio que quanto mais pobre e miserável a sociedade, mais tendem a surgir discursos homofóbicos, pois as pessoas precisam de afirmar e reafirmar a sua superioridade perante alguém. E escolhem, precisamente, aqueles que, por serem minoria, são mais fáceis de criticar e denegrir sem a existência de represálias. Por exemplo, se eu for um homem branco, caucasiano e heterossexual, mesmo que seja um falhado com apenas um neurónio avariado, basta-me criticar as mulheres, os pretos e os homossexuais para me convencer de que sou melhor do que a maior parte das pessoas. Não quero com isto dizer, no entanto, que apenas os pobres são preconceituosos. Antes pelo contrário, nos ditos meios elevados, onde a estima das pessoas é medida pelos cavalos do carro, os metros quadrados da casa e a quantidade de apelidos no nome, a imagem é a prova de superioridade e, como tal, passar a ideia de que se respeitam os bons-costumes torna-se ainda mais essencial. Assim sendo, numa sociedade podre todos têm uma razão para querer ser mais do que o próximo.
Mais irónica ainda é a compaixão quase paternal do geral da sociedade para com os casais estéreis ou idosos que, não podendo procriar, têm todo o direito a unir-se e serem felizes. Ou a proliferação de métodos contraceptivos que levam os casais a ver a procriação como algo secundário ao prazer, quer sexual, quer na relação com outro Ser Humano. A Universalidade de regras morais torna-se assim uma utopia, pois os heterossexistas aceitam apenas aquilo que não põe em causa os alicerces que os tornam, supostamente, superiores.
"E quando os gays se puderem casar e adpotar crianças? Como é que a minha superioridade vai estar expressa na lei?" - Este é o único argumento que os heterossexistas, se conseguissem auto-analisar-se minimamente, conseguiriam ensaiar, isto se não colocassem a cabeça na areia por vergonha a algo tão ilógico.

1 Portas LEScancaradas:

Alexander Supertramp disse...

Boas noites a todos/as!
Fui abordada no sentido de comentar este blogue, embora não saiba muito bem como me expressar acerca deste tema, no entanto, talvez possa partilhar aqui o facto de me questionar tantas vezes, principalmente durante as viagens que tenho feito "Europa-fora", o facto de todas as acções que vão para "fora do vulgar", ou seja, que não são praticadas pelo meu vizinho de cima nem pelo de baixo, nem pela filha da colega de trabalho da minha mae, são vistas como atitudes de alguém problemático, que se quer afirmar e expor perante a sociedade em que vivemos, tão certa e sábia.. Por exemplo, coisas tão simples como estar a acabar o ensino secundário e querer fazer um "gap-year" (o que significa nao ir a correr para a faculdade e fazer outras coisas como voluntariado, viajar, arranjar uns trocos num part-time para se viver melhor durante a faculdade...) significa, para a maioria dos portugueses (pelo menos os que me rodeiam), deixar de estudar, desistir de mim, perder um ano, que me levará ao abismo..blá blá blá. Claro que o correcto seria ir para a faculdade, só porque toda a gente vai para a faculdade mesmo se não sabe que curso quer tirar, mas está efectivamente lá e pode gabar-se disso.

Não é preciso falar-se de sexualidade para nos deparar-mos com o modo estupido como a própria sociedade vive e encara tudo o que é diferente, invulgar, de outra maneira.. E acabamos sempre por dizer que a culpa é do "sistema", do governo e da educação que nos dão. No fundo, o sistema somos todos nós. Somos nós que nos importamos com a maneira que olham, que falam, que riem, somos nós que passamos a imagem de que nos importamos e nos sentimos mal com isso. Somos nós que deixamos a propria sociedade evoluir nesse sentido.
Não vou deixar de fazer o meu gap year, tal como espero não que deixem de ser aquilo que são. A sociedade somos nós.

..."Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação.".. - Artigo 2º da declaração universal dos direitos humanos ;)