Diz a mulher que se orgulha de, nos anos 60, ter fugido de casa dos pais para ser Hippie e fumar umas brocas: "Homem com homem? Mas isso não é normal!" (como quem nunca fugiu à norma).
Diz o homem que vai no seu 3º casamento, não liga nenhuma aos filhos e trai a mulher com a prima desta: "Casamento homossexual? É totalmente contra os valores da instituição familiar! E as crianças criadas por homossexuais vão crescer totalmente desequilibradas!" (nem é preciso comentar).
O pseudo-macho: "Sim, a minha fantasia é ter duas mulheres na cama. Casamento homossexual? Elas que se casem, que me dá tesão, eles... foda-se!!!! Paneleiros da merda!"
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Quantas outras barbaridades, verdadeiramente anti-natura, não vemos bem patentes em qualquer discurso homofóbico? Creio que quanto mais pobre e miserável a sociedade, mais tendem a surgir discursos homofóbicos, pois as pessoas precisam de afirmar e reafirmar a sua superioridade perante alguém. E escolhem, precisamente, aqueles que, por serem minoria, são mais fáceis de criticar e denegrir sem a existência de represálias. Por exemplo, se eu for um homem branco, caucasiano e heterossexual, mesmo que seja um falhado com apenas um neurónio avariado, basta-me criticar as mulheres, os pretos e os homossexuais para me convencer de que sou melhor do que a maior parte das pessoas. Não quero com isto dizer, no entanto, que apenas os pobres são preconceituosos. Antes pelo contrário, nos ditos meios elevados, onde a estima das pessoas é medida pelos cavalos do carro, os metros quadrados da casa e a quantidade de apelidos no nome, a imagem é a prova de superioridade e, como tal, passar a ideia de que se respeitam os bons-costumes torna-se ainda mais essencial. Assim sendo, numa sociedade podre todos têm uma razão para querer ser mais do que o próximo.
Mais irónica ainda é a compaixão quase paternal do geral da sociedade para com os casais estéreis ou idosos que, não podendo procriar, têm todo o direito a unir-se e serem felizes. Ou a proliferação de métodos contraceptivos que levam os casais a ver a procriação como algo secundário ao prazer, quer sexual, quer na relação com outro Ser Humano. A Universalidade de regras morais torna-se assim uma utopia, pois os heterossexistas aceitam apenas aquilo que não põe em causa os alicerces que os tornam, supostamente, superiores.
"E quando os gays se puderem casar e adpotar crianças? Como é que a minha superioridade vai estar expressa na lei?" - Este é o único argumento que os heterossexistas, se conseguissem auto-analisar-se minimamente, conseguiriam ensaiar, isto se não colocassem a cabeça na areia por vergonha a algo tão ilógico.